Fiquei aqui pensando em como começar a falar deste espetáculo. E acho que a melhor maneira é: trata-se de um musical emblemático para a época em que estamos vivendo no Brasil. Uma época em que precisamos de muito mais atitude do que discurso, precisamos entender que transgredir é viver, que somos uma mistura de raças e cores!!!
E como precisamos disso!!!
Sim a história é famosa tragédia de amor escrita por Shakespeare há mais de 400 anos. E como continua atual! Todos nós sabemos o final, mas neste espetáculo o tempero maior fica pelo simples fato de ela ser contada pelas músicas do repertório de Marisa Monte.
A adaptação e roteiro musical ficaram por conta de Gustavo Gasparani e Eduardo Rieche que foram imensamente felizes na seleção das músicas. Ora a poesia delicada, ora o discurso inflamado e certeiro.
Eu, particularmente, torço o nariz pra musicais, porque não gosto de diálogos cantados e dramatizados. Mas fui assistir Romeu e Julieta porque sou fã absoluta de Marisa Monte e queria ver como esse repertório seria inserido na trama. Qual não foi minha surpresa em ver que souberam separar bem as duas coisas: os diálogos são interpretados com falas (sem aquela coisa de falar cantando) e as músicas entram para retratar o clima do momento da trama. Todas as músicas lindamente interpretadas pelo elenco, um coral lindíssimo e solos impecáveis.
Se eu tivesse que fazer uma observação somente seria pela pouca aparição dos músicos: uma banda maravilhosa, dividida em dois andares estrategicamente colocados ao fundo do palco, mas que ficam boa parte escondidos atrás de uma cortina. Aparecem em momentos da peça, mas fiquei com vontade de vê-los mais.
O cenário é também de se destacar: delicado em alguns momentos e imponente em outros. E traz o clima perfeito pra trama.
Em cena 25 atores, 25 vozes maravilhosas e uma energia linda de se ver. Bárbara Sut interpreta a Julieta. Thiago Machado, o Romeu. Um casal lindo que mistura raças e dá seu recado aos mais atentos.
O momento que chorei na peça? No final, quando o elenco todo estava no palco agradecendo ao público interpretando "Bem que se quis" e o fizeram com tanta energia chegando junto e tão forte à plateia que me emocionou muito. Ver aquela mistura de talentos em cores de mãos dadas mostrando o quanto somos felizes e fortes juntos e sob a batuta de nossa cultura, ahhh...chorei de alegria.
Guilherme Leme Garcia, responsável pela concepção e direção do espetáculo, no texto do programa da peça diz: "Essa obra prima da dramaturgia universal nos aponta a revisão de padrões e nos encoraja a mergulhar em um universo belamente transgressor. Em tempos de ideias alinhadas com horizontes livres, sem fronteiras, torna-se impossível tolerar a falta de reconhecimento de diferentes crenças que respeitam plenamente a verdadeira razão humana e recusam qualquer regra ordinária equivocada que nos impeça uma nova harmonia mundial".
É isso: Shakespeare, com sua obra nos faz lembrar que, mais do que mil palavras o que vale mesmo são nossas atitudes.
E não por acaso está no palco um elenco multirracial mostrando que somos muito mais do que um padrão!
E como somos fortes assim misturados!
Parabéns equipe técnica, produtores, diretores, músicos e elenco. Vocês estão protagonizando a mais pura função da arte transformadora.
E à minha querida Eveline Orth e equipe, meu sempre PARABÉNS por investir tanto, ter coragem e nos proporcionar espetáculos de tanta grandeza como este musical que chegou a Floripa de mala e cuia...com três caminhões de equipamentos e cenários e muito talento!!!
Se você ainda não viu, ainda tem chance de ver: domingo no teatro Pedro Ivo Campos. Garanto que vai sair de lá feliz e orgulhoso de ver que somos foda na arte de fazer arte!!!!
2 comentários:
Que bom ler suas belas palavras Ligia ! Ficamos muito felizes pelo seu texto, muito obrigado!
Obrigada Thiago! Vocês arrasaram!!!!!
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