Alegria!!!
Esse é o sentimento que define a forma como vi hoje contada a história da nossa música sertaneja, caipira. Sai do teatro com dor "nos carrinho" como se fala...porque passei o espetáculo todo com sorriso aberto. E não se trata de comédia não, fui contaminada com a alegria na expressão do elenco que estava no palco.
Incrível a energia, o olhar, o prazer que este elenco passou para o público! E olha que fui na segunda sessão, imagino o cansaço de ficar quase 6 horas no palco (cada sessão tem quase 3 horas), mas eles estava lá, com sorrisos lindos, nos brindando com uma história linda, vozes maravilhosas....
Dito isso, vamos tentar falar um pouco sobre esse grande musical. Prá começar é mais uma obra que tem o texto, o roteiro musical e a direção de Gustavo Gasparani. Falei dele aqui ontem, sobre o musical Romeu e Julieta também dirigido por ele. E o cara mais uma vez foi certeiro.
Dividido em dois atos, o musical conta a historia da música caipira, sertaneja. Mas mais do que isso, fala do viver perto da natureza com respeito e devoção!!!
Já na abertura do espetáculo o texto pedia: tire o preconceito do seu coração urbano e se permita conhecer o mundo caipira.
Meus avós maternos vieram da roça. Meu pai, trabalhando no Banco do Brasil e sempre morando em cidades agrícolas, também me proporcionou a convivência com muitas famílias que viviam na roça. Muitas daquelas músicas, meu pai cantarolava em casa. E isso me trouxe uma memória afetiva enorme!
Lembranças boas...lembranças de como é bom a simplicidade e que arte é viver nela.
A poesia, a lida com animais, com a terra...a contemplação do luar, das águas, dos causos...do bem viver.
Tudo isso vem naturalmente nos textos leves e, em alguns momentos engraçados, e temperado com as músicas.
Abre com a Folia de Reis e aí vem um desfile de poesias e melodias como "Um Violeiro Toca" "Luar do sertão", "Chalana", "Romaria", "Cio da terra" só pra citar algumas.
Nos textos poemas de Cora Coralina, Manoel de Barros...tem também Villa-Lobos, Monteiro Lobato entre outros. A obra de Tarsila do Amaral inspira o cenário...aliás, um baita cenário que traz em alguns momentos elementos gigantes no palco.
Tudo isso serve de parque de diversão para um elenco que que vive a história de uma forma visceral.
No segundo vem a transformação. Mostra o quanto a música caipira teve que se adaptar com a chegada do rock, das guitarras e assim acompanhar o progresso e até onde ela chegou.
E aí vem "Fio de Cabelo", "Pensa em mim", "Nuvem de lágrimas", "A Majestade o sabiá", "Tocando em Frente", "Evidências".
A Historia não segue uma cronologia exata, mas mostra o caminho que esses caipiras tiveram que seguir, o quanto tiveram que se transformar e como ganharam o mundo.
Um destaque? É difícil dizer viu...mas a sequência com o menino da porteira conversando com O Boi Malhado e o Boi Carvão é divina. Pedro Lima (o boi malhado) e Alan Rocha (o boi carvão) dão show!!! Outra sequência fantástica é da pesca e suas histórias de pescadores. Atores maravilhosos e cantores divinos. E falando em vozes, Lilian Menezes: que voz é essa hein?
Musical veio depois das séries que Michel Teló fez no programa Fantástico, da Rede Globo e trouxe um pouco daquele clima que a gente via nas matérias.
E aqui sou obrigada a falar do Michel.
Eu o conheci, como a maioria, com o sucesso estrondoso de "Ai se eu te Pego". E sim, tinha todo meu preconceito dizendo que aquela música era só mais um sucesso embalado no pacote da indústria.
Quando veio a série "Bem Sertanejo", como gosto da música caipira, parei pra ver meio que torcendo o nariz ( o que esse Teló tem a ver com o caipira?) Ali, eu o conheci melhor e vi que o "Ai se eu te pego" era só um baita sucesso popular no meio de uma história que era bem maior. Passei a respeitar o moço e mais, a admirar. Porque você sente quando o cara vive aquela história caipira e quando é mais um cantor se passando por apresentador. Senti conhecimento e verdade ali. Em algum momento, recebi, na redação, um Cd com uma coletânea de releituras de clássicos sertanejos com Michel e convidados intitulada "Bem Sertanejo". Trouxe pra casa e ouvi. Gostei demais.
Mas hoje sai do teatro, definitivamente, fã desse cara. Primeiro por que apesar de ser a estrela do musical, aquele que a maioria quer ver, ele não toma o espaço sozinho, pelo contrário, o elenco todo tem espaço e brilha demais. Michel Teló, está ali para ser um elo de ligação, mas que não se sobrepõe aos outros.
E segundo porque no fim do espetáculo ele assume o papel dele mesmo e dá um recado muito precioso: "sonhe, mas acima de tudo, lute pelos seus sonhos. Quem disse que é impossível?" e conta a história dele até chegar na "Ai se eu te pego" e aí meus caros, um clipe com imagens de celebridades do mundo inteiro dançando a coreografia do "Ai se eu te pego" é a prova concreta do que ele diz:sonhe e vá atrás que você consegue!
No final, depois de toda a historia contata, o texto te convida a deixar o preconceito de lado afinal, caipira não é sinônimo de atrasado e muito menos de "jeca". caipra é antes de tudo um viver com todos os recursos, mas uma coisa não muda: o respeito pela natureza e pela vida que faz sentido...aquela que valoriza a boa prosa, o luar e olhar e não dispensa uma boa música!!!
Saí do teatro com os versos de "Um violeiro Toca" na cabeça: [Tudo é sertão, tudo é paixão, se o violeiro toca/ A viola, o violeiro e o amor se tocam]
Obrigada meus queridos...por tanta alegria!!! Por me fazer lembrar porque eu gosto tanto de correr no mato, acho que é uma forma de eu estar perto desse universo que contempla tanto a poesia e a vida simples ao ar livre!!!!
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