Sabe aquele show e você vai e se sente tão pleno que não quer que acabe nunca? Foi assim que me senti no show que vi do Teatro Mágico, no ultimo domingo. Repertório, iluminação, arranjos, qualidade de som, desempenho no palco, ambiente... tudo contribuiu para esta sensação.
O Teatro Mágico é um bom exemplo de música independente. Usa a bandeira da arte livre. São contra ECAD, direitos autorais e proibição de download de música. Acreditam que a música deve ser gratuita porque o que o artista deve vender mesmo é seu show...
Eles são a prova que isso é possível sim, com organização e um trabalho de marketing muito bem feito.
E não é porque nãos e curvam a gravadoras que dispensam um bom produto embalado pra venda. Quem vai ao show do TM encontra a famosa barraquinha com a venda de produtos. CDs, DVDs, camisetas, chaveiros, materiais escolares, pijamas, fronhas....tudo que se possa imaginar e onde cabe a poesia de Fernando Anitelli está lá, à venda. E assim ganham muito mais do que se tivessem assinado qualquer contrato limitador com gravadoras. São donos de sua arte o que lhes dá o direito de fazer com ela o que bem entender.
Este ano, uma das música do TM, "Canção da Terra", entrou na trilha sonora de "Flor do Caribe", novela das seis da Rede Globo. A porta de entrada foi aberta por Jayme Monjardim (sempre ligado em música boa). Mas a Som Livre foi obrigada a concordar que a música, apesar de estar no CD da novela, também estivesses na internet de graça. E é isso: é preciso ocupar espaços.
O que me encanta no teatro Mágico é a união da música com a poesia de Fernando Anitelli e o clima lúdico de um circo. Ver as meninas desempenhando a dança nos panos é lindo demais.
Nas letras os temas são claros: canções de amor e de protesto...mas é um protesto meio "tapa na cara" sem ser panfletário demais.
(...)"Pra dilatarmos a alma
Temos que nos desfazer
Pra nos tornarmos imortais
A gente tem que aprender a morrer
Com tudo aquilo que fomos
E tudo aquilo que somos nós"(...)
[O mérito e o Montsro]
As canções que falam de sentimentos que cruzamos no nosso dia:
(...)"Tem beijo que parece mordida
Tem mordida que parece carinho
Tem carinho que parece briga
Tem briga que aparece pra trazer sorriso
Tem sorriso que parece choro
Tem choro que é por alegria
Tem dia que parece noite
E a tristeza parece poesia"(...)
[Sonho de uma Flauta]
As metáforas,
"A partir de sempre
Toda cura pertence a nós.
Toda resposta e dúvida.
Todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser,
Todo verbo é livre para ser direto ou indireto.
Nenhum predicado será prejudicado,
Nem tampouco a frase, nem a crase, nem a vírgula e ponto final!
Afinal, a má gramática da vida nos põe entre pausas, entre vírgulas,
E estar entre vírgulas pode ser aposto,
E eu aposto o oposto: que vou cativar a todos
Sendo apenas um sujeito simples.
Um sujeito e sua oração,
Sua pressa, e sua verdade, sua fé,
Que a regência da paz sirva a todos nós.
Cegos ou não,
Que enxerguemos o fato
De termos acessórios para nossa oração.
Separados ou adjuntos, nominais ou não,
Façamos parte do contexto da crônica
E de todas as capas de edição especial.
Sejamos também o anúncio da contra-capa,
Pois ser a capa e ser contra a capa
É a beleza da contradição.
É negar a si mesmo.
E negar a si mesmo é muitas vezes"(...)
[Sintaxe à Vontade]
Neste show o repertório passeou por toda a carreira sonora do TM.
E no bis, quando Fernando volta só com seu violão ao palco, o público é presenteado com uma sequência de grandes sucessos que até então não tinham aparecido...um grande poo pourri de belas letras que ficam ainda mais evidentes na voz e violão. Foi muito bonito!
Duas horas de show...duas horas de brinde aos olhos e aos sentidos.
Parabéns a Orth Produções que colocou o TM pela primeira vez no CIC...o lugar perfeito pra ver essa trupe brilhar!
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