"Eu vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos e fiquei tão triste como se quisesse querido vivê-los e não conseguisse." (...)"Eu não sei se a vida é pouco ou é demais prá mim. Não sei se sinto demais ou de menos. Seja como for...a vida. De tão interessante que é a vida, em todos os momentos, chega a doer. É enjoar, a cortar, a roçar, a ranger. A dar vontade de dar pulos de ficar no chão, a sair para fora de todas as casas, de todas as lógicas, de todas as sacadas e ser selvagem entre árvores e esquecimentos."(...)
Foto-Heron Barbosa
Uma banho de cultura...de poesia e música. Assim é o recital, porque não posso chamar o que Maria Bethânia vem fazendo em "palavras" de show. É muito mais que isso.
No alto de seus 65 anos, 46 deles dedicados à música e à poesia, Bethânia resolveu abrir mão de grandes cenários e muitos músicos para se apresentar na companhia de Jaime Além, violão e Carlos Cesar percussão. Uma estante, onde estão as poesias selecionadas, seu óculos, sua roupa branca e pés descalços.
Mas tudo ali fica cheio quando ela abre a boca e solta aquela voz forte. Seja nas músicas que ligam uma poesia a outra, seja recitando textos belíssimos.
Bethânia sempre mesclou, em seus shows, poesias e música. Mas desta vez ela deu espaço maior à poesia.
Ela explica que o gosto pela poesia e pelos silêncios da respiração que ela propõe, nasceu em uma escola pública, no recôncavo baiano, onde um professor mostrava a seus alunos o sabor dos versos.
Bethânia vai passeando por palavras que contam a vida dela também.
Ela explica que, assim como foi nos anos 70, apesar da ditadura, existia no mundo dela e dos amigos um prazer de compartilhar...e esse espetáculo nada mais é do que o compartilhar da cultura dos espaços, do silêncio, das palavras. E declama "eu vivo clandestina. Não é mole essa vida clandestina. Mas posso me orgulhar da qualidade de minha pele e da temperatura do meu beijo. Eu estou envolvida em mundos onde só existem no desejo. Quero fazer com você um pacto de delicadeza. Eu quero me sentir alteza para te ceder todos os músculos, ser arbustos pros seus beijos. Vamos sair esburacando a madrugada, trocando beijos tragadas, a lua. A lua é uma lantejoula da Nasa que brilha leitosa no meu vestido estrelado."
Foto - Heron Barbosa
Maria bethânia consegue o silêncio absoluto no teatro. Confesso que cheguei duvidando se iria gostar do que eu veria ali, já que sabia que era muito mais poesia do que música. E como nunca tinha conseguido ver essa mulher ao vivo, fiquei na dúvida. Mas bastou os primeiros segundos para entrar com alma na proposta implicita nesse trato feito por Bethânia. O espetáculo passou voando e a emoção no mais alto teor de sua conquista. Foi divino. Saí do teatro com lágrimas nos olhos.
"só se pode viver perto de outro e conhecer outra pessoa sem perigo de ódio se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde. Um descanso na loucura. Amor é a gente querendo achar o que é da gente."
Precisa falar mais alguma coisa? Não né...só sentir!
Bethânia veio pela segunda vez a Santa Catarina em menos de um ano, pela produção da A&B produções. Parabéns a eles e que a tragam mais vezes. E aqui agradeço em especial a minha amiga/irmã Eveline Bittencourt que me convidou a ver tudo isso de muito perto. Me sinto abençoada por ter compartilhado essa noite com Bethânia e essa força que ela despeja com humildade e sabedoria!
Amém!
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